Dando voz aos sonhos: o trabalho transformador da fonoaudiologia na Casa Azul Felipe Augusto
Por João Jones Bogea
Em uma sala simples, iluminada pela luz do entusiasmo que atravessa as janelas, Thames, a fonoaudióloga da Casa Azul Felipe Augusto, encontra-se diante de um universo de possibilidades. Seu nome, incomum e marcante, carrega uma sonoridade que reflete a singularidade de sua missão: transformar vidas através da comunicação. Com um olhar acolhedor e gestos precisos, ela não apenas facilita às palavras; ela devolve confiança, autoestima e sonhos.
Uma de suas histórias marcantes entre seus educandos, está um adolescente de 14 anos, cujo maior desejo é se tornar bombeiro. No entanto, esse sonho parecia distante para quem mal conseguia reconhecer as letras do alfabeto ou assinar o próprio nome. Quando chegou à Casa Azul, ele trazia mais do que dificuldades de aprendizado: trazia o peso do bullying e da vergonha. Thames, em parceria com a psicopedagoga, abraçou o desafio. Começaram do básico, quase como se estivessem desenhando um novo mundo para ele, letra por letra. Hoje, ele não apenas reconhece palavras, mas também está mais confiante, aguardando ansioso cada sessão para aprender mais. “Durante as férias, ele me perguntou se eu continuaria vindo para que pudessemos trabalhar”, conta Thames, emocionada.
Outro caso impactante é o de uma criança de 8 anos que tinha dificuldade em pronunciar o som do “R”. Naquele dia, em meio a uma atividade, ele finalmente conseguiu. Seus olhos se encheram de lágrimas, e ele declarou, entre soluços de felicidade: “Eu consegui!”. Thames também se emocionou. “Esses momentos mostram que nosso trabalho vai muito além do que é técnico. Eles mudam vidas.”
Mas os desafios não são poucos. Trabalhar com educandos em situação de vulnerabilidade social exige paciência, dedicação e empatia. Muitos deles chegam à Casa Azul com traumas e barreiras emocionais. Thames acredita que o primeiro passo é criar um vínculo de confiança. “Eles precisam entender que estamos aqui para ajudar, que acreditamos no potencial deles. Muitas vezes, eles só precisam de estímulo e de alguém que diga: ‘Você pode!’”
Para Thames, a comunicação é muito mais do que palavras. É a chave para interações sociais, para o desenvolvimento da autoestima e para a construção de um futuro. “Aqui, nós trabalhamos não apenas a fala, mas também a autoestima. Essas crianças e adolescentes precisam acreditar que podem sonhar alto e que têm capacidade para conquistar o que quiserem.”
Além do trabalho direto com os educandos, Thames também busca envolver os pais no processo. Com rodas de conversa e capacitações, ela orienta as famílias sobre como estimular as crianças em casa e como acessar recursos e direitos. No entanto, a adesão ainda é um desafio. “Quando os pais entendem o que fazemos, eles passam a valorizar e a colaborar mais. Nossa intenção é fortalecer essa parceria.”
Thames também expressa sua gratidão por fazer parte da Casa Azul. “Foi uma grata surpresa na minha vida profissional. Aqui, vejo como o nosso trabalho pode impactar de forma positiva a vida de tantas crianças e famílias. A Casa Azul oferece oportunidades que essas crianças talvez nunca tivessem. E isso é transformador.”
No corredor da instituição, risos e palavras ecoam, marcando os avanços de cada educando que, um dia, se sentiu incapaz. Thames sabe que o caminho é longo, mas também sabe que, para cada vida transformada, todo o esforço vale a pena. No fim, não são apenas sons que ela ensina; ela ensina coragem, autoestima e a arte de sonhar.